A coerência crítica é trabalhosa, porque aquele que realiza uma crítica necessita estar aberto ao confronto e manter-se coerente em realizar críticas sobre si mesmo. Alguns aspectos, principalmente aqueles de escopo moral, são bandeiras mais difíceis, por exemplo, o Partido dos Trabalhos ergueu a bandeira contra a corrupção e se envolveu em um dos maiores escândalos de corrupção do país. Infelizmente, a saída para continuar no jogo pode ser a aceitação de uma "moral" frouxa, que muda arbitrariamente de acordo com aquele que tem mais poder, mais influência, assim, dessa maneira, a crítica pode ser realizada abertamente sem preocupações com aspectos que a comprometem. Obviamente, algumas camadas sociais não desfrutam de uma aceitação de descaramento como no campo político prático que se desenvolveu no Brasil, a saber, pode haver mais estranhamento quanto a crítica que um grupo realiza sobre outro quando não busca tratar seus próprios erros.
A crítica pode ser usada por vários motivos, e destacamos dois: a crítica que busca transformações e a que desqualifica para engrandecer quem a realiza. A primeira, por causa do jogo de poder e influência que se desenvolve nas camadas sociais, é a mais rejeitada pelos homens, embora seja abertamente considerada como algo que a sociedade necessita – requer uma construção lógica e amplamente baseada –, ou seja, por ser correta, as pessoas tendem a não se voltar contra a sua necessidade publicamente, para não se comprometer ao ir contra algo coletivamente aceito. Mas ela compromete posições, por exemplo, um homem ou um grupo envolvido em um escândalo, que pode perder o prestígio social que alcançou, a posição de dar ordens, etc, poderá agir contra a crítica porque é também alvo de um processo de transformação que pode afetá-lo, puni-lo ou removê-lo da posição de que desfruta.
A segunda, que busca desqualificar para crescer, é mais comum e típica da retórica, do esforço para se parecer melhor e maior, em que se está disposto a abrir mão da coerência por reconhecimento. Não precisa estar comprometida com a verdade, ainda que use as virtudes por benefício, enquanto, ao criticar um adversário, não busca ser coerente no que critica, quanto às críticas que recebe ou no rigor contra si mesmo. Por exemplo, para parecer inteligente, principalmente em ambientes com pessoas mais fanáticas ou com pessoas mais ignorantes, alguém pode exercer uma crítica, na composição de sua argumentação, contra algo negativo em outro: um partido político, um grupo religioso, uma ideologia, etc, porém odiar que se ataque na mesma medida os erros que conhece sobre o que defende ou sobre si mesmo, mas não os ataca publicamente ou pelo menos os considera abertamente dignos de mudança.
No contexto de receber uma crítica daquilo que não está determinado a enfrentar sobre si mesmo, ou seja, reconhecer os próprios erros, mas em que há determinação para ir contra os pontos negativos de outro, nada melhor que criar um espantalho para bater. Trata-se de uma maneira de desviar as atenções do argumento que pode comprometer, embora a finalidade possa ser a de tentar crescer em inteligência perante o espectador ou esconder os próprios equívocos por trás de uma virtude, uma doutrina ou uma ideia amplamente aceita. Portanto, um espantalho pode ser usado para esconder algo que não temos a intenção de tratar, e seu uso, no caso moral, pode ser um descompromisso com a verdade.
A realidade tem mostrado que a crítica pode ter um custo alto, principalmente para aqueles que buscam defender ideias conservadoras e doutrinas religiosas sérias, cuja história pode estar vinculada a uma cultura influenciada por aspectos éticos e morais que se desenvolveram com base na religião, na liberdade e na verdade. Contudo, a aplicação da crítica coerente é importante para o desenvolvimento de um país.