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Mostrando postagens de outubro, 2023

Explorados na necessidade: "pão para hoje, fome para amanhã"

Como cansam esses seres iluminados que acreditam ter em mãos a missão de lutar pela causa dos mais necessitados. Não há gente mais própria, mais pura e capaz de erguer tal bandeira. Podem não ser adequados, mas possuem um coração limpo, do tipo que a corrupção não suporta. Podem não ter capacidade, mas acreditam ter sido reservados para o trabalho, digno apenas dessas almas caridosas que lutam contra um mundo injusto. Usam-se do bem e de tudo que lhes pode atribuir uma imagem de tão bondoso ser, são politicamente corretos. A democracia, que sofre mais que o fígado do Prometeu Acorrentado, nunca foi tão surrada como em suas bocas. Acreditam que, por algumas palavras decoradas, são as criaturas mais inteligentes da terra. Quem pode ser mais generoso que aqueles que lutam pelos pobres para satisfazer seus próprios desejos perversos? Quem pode ser mais próprio que estes que, para comer mais carne, tiram da boca dos que pouco possuem? Quem pode ter mais honra que aqueles que dizem amar os p

Um totem na realidade

No filme A Origem, o personagem Cobb, interpretado por Leonardo diCaprio, girava um totem para saber se estava acordado.  Certa vez alguém disse que interpretar a realidade se trata de qual óculos uma pessoa escolhe, mas a afirmação é difícil de ser ingerida, embora muitos acreditem que podem viver a utopia que desejam. É típico da realidade envergonhar os inteligentes e humilhar os inexperientes, e um de seus aspectos mais interessantes é a sua capacidade de conter a utopia, visto que o utópico se expressa no que é real e o modifica em rejeição. Em 1793, William Godwin, conforme expressa Heilbroner, acreditava em um futuro sem guerra, sem crimes e sem governo e de completa igualdade, ou seja, uma utopia comunista. Mas, no seu tempo, um reverendo chamado Thomas Malthus, por meio de um tratado, afirmou que havia uma tendência da população em ultrapassar todos os recursos para a sua subsistência. Ou seja, faltaria alimento, dado que para ele a população cresceria em uma progressão geomét

A sorte não dá duro

Atualmente há um grande esforço para tentar diminuir o mérito individual. Encontramos quem afirme que a situação atual de sua vida é fruto da sorte, que se trata de acesso a meios que outros não têm, como uma vaga em um projeto de universidade. O fato de que tudo não foi pensado nos mínimos detalhes e que a vida não seria a mesma sem todos os eventos que ocorreram fora de nossos domínios pode se tratar  da sorte como probabilidade, mas jamais como obra do acaso, porque o acaso não existe. Ou seja, faz sentido a questão: qual a probabilidade de alguém sair de uma periferia ou cidade pouco desenvolvida e tocar seu próprio negócio, trabalhar em uma grande empresa ou concluir bem uma graduação?  Ser bem sucedido em algo, de maneira legal, é fruto de aspectos como trabalho individual, inclusão econômica, investimento público, progresso tecnológico, instituições que funcionam e educação. Diante de tantas decisões, como a criação de uma creche que pode aumentar a produtividade de uma mãe, de

A redução a um olho, ou humilhar-se por aceitação

Estava em frente a um espelho, amargurado por ter tomado tão terrível decisão contra o seu próprio corpo: na noite anterior havia arrancado a sua orelha com uma faca. Que animal chegaria a tal ato contra a sua própria carne? Qual motivo levaria alguém a tanto descontrole? Lutava por espaço, por reconhecimento, por lugar em um grupo. E fez isso ao ponto de desprezar a sua subjetividade, a individualidade que o torna único, para pensar como a multidão. Tornou-se um vendido, alguém que se compra por um sentimento de pertencimento, que serve para ocultar os erros. Deixou de ser ele mesmo, e suas partes foram sendo arrancadas brutalmente por suas próprias mãos, para se mostrar digno do merecimento das atenções, e fez tudo aos olhos dos que estavam prontos para lhe receber, perdeu-se no coletivo. Arrancou o nariz, a boca, as orelhas e um olho. Era amado pelos que prezam por uma unidade de grupo em detrimento da personalidade e do prazer individual, desde que esteja disposto à humilhação, por