Como cansam esses seres iluminados que acreditam ter em mãos a missão de lutar pela causa dos mais necessitados. Não há gente mais própria, mais pura e capaz de erguer tal bandeira. Podem não ser adequados, mas possuem um coração limpo, do tipo que a corrupção não suporta. Podem não ter capacidade, mas acreditam ter sido reservados para o trabalho, digno apenas dessas almas caridosas que lutam contra um mundo injusto. Usam-se do bem e de tudo que lhes pode atribuir uma imagem de tão bondoso ser, são politicamente corretos. A democracia, que sofre mais que o fígado do Prometeu Acorrentado, nunca foi tão surrada como em suas bocas. Acreditam que, por algumas palavras decoradas, são as criaturas mais inteligentes da terra. Quem pode ser mais generoso que aqueles que lutam pelos pobres para satisfazer seus próprios desejos perversos? Quem pode ser mais próprio que estes que, para comer mais carne, tiram da boca dos que pouco possuem? Quem pode ter mais honra que aqueles que dizem amar os pobres enquanto roubam dos pobres? Coitados dos mais desprovidos, que vivem a esperança de que pelo menos estes pervertidos um dia irão mudar.
Ainda que as ações sejam assimétricas, importam mais as promessas. Alguém que se diz lutar pelos pobres, mas que faz um mau uso de dinheiro público com milhões gastos em festas e viagens, para ter uma vida diferente da que tinha antes da política, é um insolente que se lambuza completamente. Quando ocorre o acesso ao dinheiro público, em um país em que há a falta de investimento em saúde, infraestrutura e educação, é terrível que aqueles que se dizem lutar pelos menos providos explorem sua cansada vida para pagar impostos. O cuidado pelos pobres é uma completa farsa de um entendimento de que é possível fazer dinheiro com a situação de vida das pessoas. Esforçam-se na luta pela ascensão social, insistem em incentivar o consumo, mas quem dera tudo isso fosse sustentável, porque na realidade se trata de populismo. Não bastasse o mau gasto do dinheiro público e a corrupção desenfreada, ainda incentivam o endividamento, que leva as famílias a comprometerem parte de sua renda futura.
O que seria melhor para essas almas iluminadas que uma grande multidão de pobres para lhes sustentar o conforto? Entenderam que os necessitados têm um grande valor, mas não por ser gente e, portanto, digna de uma luta verdadeira em que há caráter e gasto de dinheiro público com qualidade, mas porque possuem a renda abaixo da renda do eleitor mediano, que são úteis para campanhas políticas e palavreados envelopados de um futuro melhor, de comida na mesa, de progresso. Em todos os quatro cantos do país, todos já entenderam a picaretagem desses políticos aproveitadores, e quem dera que as promessas pudessem alimentar o estômago de uma criança faminta, assolada pelas consequências da corrupção que lhe rouba da boca o alimento, que lhe tira das mãos o emprego no futuro, que lhe furta um leito de hospital.
Depois de roubarem uma grande quantia, tão perceptível quanto uma montanha, estabelecem mais controle, por meio de uma maneira de legitimar o crime, de criar uma cultura que lhes é comum, em que se justificam os maus atos em uma troca de migalhas por conforto e impunidade. Como é triste a realidade dos pobres: o desespero de se viver com tão pouco ao ponto de aceitar uma troca em que sempre perdem, cujo único apego é a esperança de comida, saúde e educação.