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Os resultados que esperamos daqueles que castramos

    
    C.S. Lewis, em uma crítica, confronta aqueles que desprezam a árdua busca pela verdade como constatação de intelecto. Ele afirma que, como sociedade, castramos e exigimos comportamentos adequados. Esse pensamento só pode surgir de uma mente que observa o mundo ao seu redor, que está atenta ao espírito formador de seu tempo. Longe disso, encontramos assentimento com a forma de instruir fundamentada em subjetividade, que despreza o que é objetivo e capaz de forjar homens. O que faz um pai ensinar a um filho que uma pessoa não pode usar um elevador social por causa da posição que exerce na sociedade? Muitas crianças, brancas e pretas, desenvolvem o sentimento de que determinado lugar lhe é próprio. Elas não terão o mesmo problema que outras para entender que um local específico, dadas as circunstâncias adequadas, como a capacidade de consumo, não tem impedimentos de acesso. Mesmo aqueles que desenvolvem capacidade aquisitiva podem ser constrangidos quanto ao consumo de algo por questões sociais que provocam efeitos internos. Uma pessoa pode ter que dizer a si mesma que, ao contrário do que ensina o pai ou a mãe, a locomoção por determinado meio lhe é um direito, mas a criança instruída, provavelmente, não necessita fazer o mesmo. 

    Pessoas pobres, além das barreiras geradas pela restrição orçamentária, podem ter de lidar com as internas, que se estabelecem pelo contexto social em que vivem, capazes de desenvolver um sentimento de pertencimento a locais mais simples e de rejeição a ambientes mais sofisticados, mas não por abrir mão da utilidade a elas conferida, e sim por um fórum interno que lhes confere um julgamento pesado de suportar. Muitos não sabem o que é ter que dizer para si mesmo que o acesso a determinado espaço é um direito conquistado financeira e socialmente. É difícil a precisão de que o incorreto ensinamento a uma criança será o motor exato para alguma prática futura, porque há um longo percurso de correção, contudo, destaco que pelo menos é impróprio exigir uma colheita sem nem mesmo ter arado a terra, plantado a semente e irrigado para um correto crescimento. Não devemos descansar de uma criança até que seja capaz de dar os frutos que necessitamos como coletividade. Como uma sociedade moralmente infrutífera pode exigir que uma criança dê frutos no futuro? Como esperar que sejam políticos de vergonha na cara, líderes religiosos não dados à imoralidade, pais e mães equilibrados, cidadãos respeitosos?

    A sociedade inglesa de T.S. Eliot enfrentou o dilema em que se esperava por crescimento moral, e a correta análise de M.L. Jones foi no sentido da mudança interna, capaz de gerar benefícios sociais adequados, algo que vem antes das consequências que a moral pode prover a uma sociedade: a mudança que produz o ato espontâneo que é convertido em moral. Queremos homens honestos, mas não pretendemos pagar o alto preço para forjá-los, um preço árduo que nós mesmos, antes deles, necessitamos suportar, porque, do contrário, sustentamos apenas a prática da prescrição de conduta, em que perdemos a essência e a dimensão reflexiva. Sem tais mudanças, terminamos com mais regras para estancar desejos e comportamentos de humanos incontroláveis aprovados por seus semelhantes. Dado que somos uma sociedade organizada por regras obrigatórias e orientada por princípios, nem uma infinidade deles seria capaz de conter tão infrutíferos cidadãos, que tratamos como bons reprodutores. Nada sairá deles, mas de nós, como coletividade, virão mais regras para conter seus descontroles animalescos.

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