Quando alguém está diante de algo que afeta a sua escolha, como a exposição à dependência química, é ético alertar sobre os efeitos, ainda que tome a decisão de consumir algo que prejudique a sua saúde. Nossas escolhas podem ser influenciadas por hábitos, vícios, cultura ou lei, e, para uma vida em sociedade, buscamos garantias de que a nossa vontade, instrumento pelo qual a mente escolhe, ainda que influenciada, seja o mais livre possível. Na superfície, há uma sensação de completa liberdade, e uma grande concorrência se desenvolve por nossas decisões. Por exemplo, as propagandas de um creme facial contra as marcas do envelhecimento, as programações de fim de semana que lutam por nosso tempo e dinheiro, as leis criadas para não fumar em locais públicos, a falsa vida de influenciadores ou as fake news que buscam manipular uma votação. Estamos sob uma tempestade de concorrências.
Entender os riscos envolvidos em uma decisão é fundamental para uma escolha racional, mas nem sempre as pessoas estão completamente entendidas. Algumas são incapazes de evitar algumas práticas, como a de fumar, por exemplo, e recebem o incentivo da lei, pelo menos para não prejudicar outras pessoas em locais públicos. Para Kahneman, que recebeu o Nobel de Economia em 2002, as intuições também guiam as escolhas. O aumento do bem-estar é, algumas vezes, prejudicado por decisões que classificamos como “irracionais”, que podem ser influenciadas por vícios, hábitos ou manipulação social. Contudo, as decisões que consideramos ruins para a sociedade nem sempre são “irracionais”. Charles Wheelan, em “Economia nua e crua”, sobre a sonegação de impostos e a venda de drogas, diz: “as pessoas podem ganhar muito dinheiro em relação ao risco de ser pego“.
Em uma situação de aumento de desemprego persistente, muitas pessoas podem encontrar-se desesperadas e furtar ou roubar para ter alimentos. Um dos efeitos da política econômica, quando se busca diminuir o desemprego em um país, pode ser a redução do crime, porque muitas pessoas podem adquirir renda por meio do trabalho para o consumo de bens. Incentivos e mercado caminham juntos, uma vez que os homens buscam seus próprios interesses – egoísmo ético. Por exemplo, por meio da política fiscal, ao aumentar os impostos sobre cigarros, o governo pode reduzir os índices de consumo. Para Gregory Mankiw, em Introdução à Economia, “como as pessoas racionais tomam decisões comparando custo e benefício, elas respondem a incentivos”. São exemplos de incentivos sobre o comportamento dos consumidores: os preços, os impostos e a lei. Por exemplo, a obrigação do uso de cinto de segurança reduz o número de mortes em acidentes de trânsito e impostos municipais, que tornam as empresas menos competitivas com as que vendem pela Internet, podem aumentar a sonegação. Nem sempre incentivos têm resultados positivos, ou seja, políticas mal planejadas podem resultar no que não era esperado por parte da administração pública.
Para uma vida em sociedade, incentivos são importantes para conduzir a decisão de pessoas que buscam seus próprios interesses. De acordo com Adam Smith, em A Riqueza das Nações, “não é da benevolência do açougueiro, do cervejeiro ou do padeiro que esperamos nosso jantar, mas da consideração que eles têm pelos próprios interesses”. Os nossos desejos também são uma maneira de guiar nossas escolhas. Do ponto de vista econômico, é possível usar o limite de renda para conduzir as decisões, por exemplo. Para o bem comum de uma vida em sociedade, somos favoráveis ao uso de leis, de impostos e de políticas que afetam as escolhas das pessoas, porque temos o interesse de aumentar o bem-estar social.